novembro 28, 2004

Má moeda...

Haverá repercurssões da teoria da má moeda e da boa moeda do Cavaco Silva aí na planície?

Que moeda é a que circula?

novembro 25, 2004

Bombordo ou Estibordo?

«Estou convencido, e isso também já aqui foi dito pela Profª. Elisa Ferreira, que aquilo que inviabilizou a aprovação dos portugueses no referendo da regionalização foi, sobretudo, a não identificação destes com o modelo territorial proposto. Tivesse o referendo sido feito numa lógica das cinco regiões e, certamente, o resultado teria sido outro.
(...)
O processo de descentralização de competências, à cabeça, é um processo claramente demagógico, e não é um bom contributo (do meu ponto de vista) para valorizar a importância da autarquia e do poder local, no momento em que as autarquias estão certamente, e em muitos casos injustamente, a ser relativamente mal tratadas e têm uma imagem menos positiva.
»
Carlos Zorrinho, Julho 2003, Intervenção no Debate “Descentralizar. Regionalizar. Desconcentrar. Como Fazer?

«O G8 – grupo dos 8 autarcas socialistas que integram a Associação de Municípios do Distrito de Beja – garantiu ontem em conferência de imprensa que o PS não desiste da criação da ComUrb do Baixo Alentejo a Alentejo Litoral. (...) Luís Ameixa espera que depois das autárquicas de 2005 existam condições para que seja criada a Comunidade Urbana do Baixo Alentejo e Alentejo Litoral
Conferência de imprensa da Federação do Baixo Alentejo do Partido Socialista, Novembro 2004 (Rádio Pax)

Ora, Sr. Eng. José Sócrates, em que ficamos, para bombordo ou para estibordo? Convinha decidir, pois com este balanço a náusea está generalizada e corre-se o risco de virar o barco. Tome conta do leme, trace azimute certo para trilhar um rumo seguro!

novembro 23, 2004

Rumo a um Processo de Descentralização Concêntrico?

A Associação de Municípios do Distrito de Beja aprovou ontem, por unanimidade, a sua transformação em associação de fins específicos, pondo um ponto final à ilegalidade que, em acordo firmado num fim-de-samena no Funchal entre os representantes do Pattido Socialista e do Partido Social Democrata, a tinham unilateralmente conduzido. (ver Diário do Alentejo)
Estão agora, segundo creio, criadas as condições para se iniciar um dabate alargado sobre o que pretendemos, estrategicamente, fazer do nosso Alentejo.
Não conheço vias sem riscos, sem trabalho ou sem vontade, apenas sei que todos seremos poucos para traçar e caminhar por via muito estreita e sinuosa. Aos representantes políticos do Alentejo pede-se, mais do que nunca, que se focalizem nos seus representados, alheiando-se de "conluios" patéticos de obtençao do poder que poderão servir para um ou outro protaganismo efémero mas nunca para o desenvolvimento sustentado das nossas gentes.
O que está em causa? Apenas e só conseguirmos sentarmo-nos todos a pensar sobre nós, alentejanos! Quem se entretiver a esgrimir se no Alentejo deve haver uma ou duas ou 3 regiões consoante o interesse partidário poderá estar a atirar-nos para um caminho sem recuo e de destino mais do que incerto!
Não podemos esquecer o resultado do referendo sobre a regionalização no Alentejo - somos todos adeptos de sermos nós a traçar o nosso destino - tendo obrigação de não a cair na tentação de evoluir para o comodato da aplicação das Leis-Quadro ns. 10 e 11 de 13 de Maio de 2003, que nada descentralizam, apenas se propõem negociar, caso a caso, atribuições administrativas que aliviem o Orçamento de Estado.
Nós queremos autonomia, queremos ser uma região com competências a nível de decisão do nosso futuro e não bonecos animados nas mãos do poder central.
Neste sentido, peço a todos os representantes políticos regionais que contenham alguma ânsea de poder que possam eventualmente sentir, para se abrirem ao Alentejo e aos alentejanos.
A Federação do Baixo Alentejo do Partido Socialista tem agendada para hoje uma conferência de imprensa e, sendo provavelmente um vencedor esperado das próximas eleições autárquicas, recai sobre ele uma responsabilidade imensa - a de unir em vez de dividir o que não há!

A última fronteira da tolerância racial: os ciganos

No passado fim-de-semana tornou a acontecer uma rixa entre famílias ciganas, da qual resultou um morto e dois feridos. Foi em Trigaches, como já tinha sido em Figueira de Cavaleiros e noutros locais. Todos os anos, por esta altura, é vê-los, à beira das estradas, em pequenos acampamentos. São os últimos nómadas. São ciganos. Não são bem gente… são braços para a apanha da azeitona. Servem enquanto servem, porquanto partam quando deixarem de servir. Inspiram medo, incomodidades e pequenos ódios. Lembro-me de Pita Ameixa ter pensado num parque nómada em Ferreira – porque havia que dar condições àquelas gentes… – como se a solução não fosse ela própria tão discriminatória como aquilo que, politicamente, se queria combater.

Serão os ciganos a última fronteira da tolerância racial? Estarão eles, já, para lá da linha? Serão, paradoxalmente, servos da gleba sem gleba?

novembro 21, 2004

o Altar

Regressei ontem de uma pequena interrupção à sequência normal da vulgaridade em que, voluntaria ou involuntariamente, nos arrastamos ou deixamos que nos arrastem. Por ora, ainda não consegui digerir bem o turbilhão de confrontos que me ocorre. Entre o que podiamos ser e o que somos.
Em concreto estive no País Basco e na capital económica do dito, San Sebastian. Porque os bascos são de facto gente complexa. Três parlamentos autonómicos com igual deputação no parlamento "central" e assumem-se como quase uma confederação. O governo autonómico não é bem um governo como o da Catalunha ou da Galiza. É uma incompreensível representação de interesses colegiais cujo entendimento me escapou em tão poucos dias... É matizado por um catolicismo profundo, mas que a mim me parece quase luterano. A riqueza oculta-se por pudor. O basco é tímido e delicado, muito educado. Contudo possui um enorme sentido de humor.
Disto tudo resulta uma região bem acima da média europeia e com problemas semelhantes aos que vejo discutir na Suécia...

Talvez um dia volte a este tema. Mas depois de umas viagens de trabalho começa a ser clara uma coisa. O altar a que se sacrificam não tem nada a ver com os altares que por aqui adoramos. O dinheiro, o poder, a fama, e outras merdas do costume...
Parece-me genuina a família basca. Parece-me sólida. Parece-me genuíno o interesse pela cultura. Vê-se muita gente a ler nos cafés e bares... Vê-se muita gente a citar o que disse este ou aquele escritor basco, espanhol, português, inglês, americano...O interesse pelo conhecimento e pelo conhecimento do outro...
e parece que ali o conceito de verdadeira solidariedade e de entreajuda vive...
o que é curioso é que com uma matriz tão católica, pelo menos na aparência, se cultiva uma ética individual de responsabilidade pessoal e intransmissível...

novembro 18, 2004

Do Porco Preto à "Salve, salve Virgo Pia" (lauda italiana)

Tratar da promoção do nosso porco preto (vamos lá a ver se não estico mal o pernil de novo) é tratar da nossa imagem, interna e externa, promovendo o que temos, o fazemos e o que somos que nos distingue e identica.
Daí que a precaridade da nossa promoção seja constatada tanto no Porco Preto como na Música Litúrgica, por exemplo. Vem isto a propósito de dois recentes eventos, um em Évora e outro no chamado Baixo Alentejo, que me revolvem as entranhas - as "VII Jornadas Internacionais da Escola de Música da Sé de Évora" e o "Terras sem Sombra", produzido pela Diocesa de Beja e muito divulgado nos meios, em parceria com a "Arte das Musas".
Não me deterei sobre a qualidade da programação destes eventos que ocorreram concomitantemente no nosso Alentejo. Detenho-me e dou nota da total ausência de um, um que seja, músico alentejano ou cá residente!
Não sofro de racismo, de xenofobia nem de bairrismo, mas entendo (poderei entender mal, é certo) que se o primeiro dos eventos foi financiado pela Câmara Municipal de Évora e o segundo pelo pelo Ministério da Cultura através do seu Programa Operacinal de Cultura (POC), onde se pode ler, que é «O Contributo dos Fundos Estruturais para a Valorização Humana e o Desenvolvimento Regional», ou ainda, na pag. 5 do link anterior, «Para compreender como os projectos co-financiados na área da Cultura promovem o desenvolvimento endógeno avaliam-se zonas que permitam afirmar a existência de "Pólos de Cultura", isto é, concelhos onde a diversidade de projectos co-financiados consubstancie um pólo de dinamismo cultural com repercussões na imagem dos territórios menos desenvolvidos, na travagem do declínio rural, na qualificação das pessoas e na valorização do território (...)», existe a "obrigação" de promover os actores culturais locais ou então declará-los incompetentes, mas nunca votá-los a um desprezo incompreensível!
Valha-me Deus! Valorização humana e desenvolvimento regional? Desenvolvimento endógeno? Consubstanciar pólos de dinamismo cultural?
Textos deste teor são valiosíssimos para mestrados, doutoramentos, pós-graduações e quejandos, mas pôr em prática, ah, pois, aplicá-los nas, pelas e com as regiões é o diabo! Por que será que nos pacotes que nos enviam para o efeito vêm sempre os mesmos produtores, agentes, artistas e os mesmos..., sempre?
Não temos (perdoem-me por não pretender ser exaustivo), a Orquestra do Baixo Alentejo? Não temos o Coro do Carmo? Não temos o Coro de Câmara de Beja? Não temos o Coro Gregoriano de Évora? Não temos o Coral de Évora? Não temos o Coro da Universidade de Évora? Não temos o Coro de Câmara do Conservatório Regional do Baixo Alentejo? Não temos o Pax Ensemble? Não temos o Quinteto Moderno? Não temos o Trio Lusitano? Não temos o Duo Concordis? Não temos o Trio de Guitarras? Não temos o Quarteto Intermezzo? Não temos os Metais do Alentejo? Não temos o Trio Divertimenti? Não temos um organista distinto que a pedido da Diocese de Beja toca regularmente no órgão da Sé para sua preservação? Não temos uma cravista competente? Não temos ume extensa série de artistas capazes de assegurar com qualidade assinalável estes eventos?
Ora bolas, assim o Ministério da Cultura poderá sempre dizer que co-financiou projectos para o Alentejo, mas nunca poderá dizer que promoveu a valorização desta região, que promoveu o desenvolvimento endógeno e muito menos que consubstanciou pólos de dinamismo cultural entre nós!
O que estes eventos têm em comum são o envolvimento de entidades religiosas, a Diocese de Beja (através do Dr. José António Falcão) e a Sé de Évora, e o Prof. Vieira Nery que, apesar de não ser residente, é professor na Universidade de Évora e, é claro, dinheiros públicos, arrecadados dos impostos de todos ou caídos de subsídios comunitários que, aparentemente, seriam para aplicar no Alentejo!
Ora, ou Deus andará esquecido deste Alentejo, o que se não me afigura, ou os seus proclamados terrenos representantes preferirão fazer "boa figura" lá para os lados da capital do "império".
A verdade é que, mais uma vez temos, fomos financiados sem tirar o menos proveito!
O Ministério da Cultura fará boa figura ao apresentar uns milhares de euros de financiamento para o Alentejo! A Igreja poderá dizer por este país afora que muito faz pelo desenvolvimento cultural destes pobres coitados! A Arte das Musas divulgar-se-á pelas programções que leva a cabo, inspiradoras ao que parece da lusa beatude! O Dr. José António Falcão e o Prof. Vieira Nery, esses não, não precisam já destas coisas, são autênticos "opinion makers" do Ministério da Cultura!
Quanto a nós, nada de novo, só os vemos passar! Poisar é que não, muito menos os financiamentos para o nosso desenvolvimento, cultural, no caso!
"Salve, salve Virgo Pia"!

novembro 16, 2004

O Desenvolvimento Local e a Gestão de Recursos Humanos...

As Associações de Desenvolvimento Local (ADL) e outras organizações do III sector (privado não lucrativo) fazem, no Alentejo e um pouco por todo o país, um meritório, algumas vezes excepcional, trabalho de Desenvolvimento nas suas áreas geográficas de actuação. Fiquemos entendidos quanto a este ponto; a afirmação está feita e é minha.

Estas organizações vivem sobretudo de financiamentos da União Europeia, seja por via dos Programas Operacionais Sectoriais e Regionais (vulgo PO’s), seja por via dos Programas de Iniciativa Comunitária (vulgo PIC’s). De uma forma ou de outra são financiadas por dinheiros públicos. São-no, de resto justamente, até porque o Estado não tem, nem por via da administração central, nem por via da administração local, condições de fazer o trabalho que elas fazem.

Presentemente, tais organizações, no Alentejo, possuem um corpo técnico de excelente qualidade; têm equipas jovens e altamente qualificadas. Tão jovens e tão qualificadas que são capazes de fazer corar de vergonha qualquer organismo estatal. Tão jovens e tão qualificadas que se disponibilizam a trabalhar fora de horas, numa entrega total, garantindo para estas organizações excelentes candidaturas a financiamentos, usualmente aprovadas, e notáveis planos de acção.

Apresentam, aparentemente, uma configuração de vanguarda: num contacto privilegiado com as populações criam e disseminam conhecimento. Têm, aparentemente, uma estrutura flexível onde a informação corre facilmente e a autonomia é prática dominante. Premeiam, aparentemente, a iniciativa e a competência. Valorizam, aparentemente, os Recursos Humanos de que dispõem.

Há, porém, um dado desconcertante: o turn-over (entenda-se a saída e entrada de técnicos) é extremamente elevada. Mais: a saída dá-se, não raras vezes, para a Administração Pública.

O que é leva jovens qualificados, altamente motivados, a sair de organizações tão vanguardistas? O que é que leva outros, ainda nessas organizações, a considerar a possibilidade de seguirem esse mesmo caminho? O que é que justifica a troca de organizações onde tratam o chefe por tu por estruturas imensamente hierarquizadas – onde não poucas vezes nem sabem quem é o chefe?

Será caso para dizer que as aparências iludem!!!

Será que a informação não flui assim tão bem? Será que a estrutura não é assim tão flexível? Será que a autonomia é uma falácia? Será que não é a iniciativa e a competência o que realmente se premeia? Será que os Recursos Humanos não se sentem assim tão valorizados.

Será que os jovens altamente qualificados e motivados estão, em alguns casos, anos e anos, a recibo verde – numa situação de emprego profundamente precária? Será que recebem, em alguns casos, consideravelmente abaixo do que se recebe na administração pública? Será que subsistem, ainda, casos de sobrefacturação nos recibos, justificando verbas recebidas pela organização, não pagas ao trabalhador, e penalizando fiscalmente, quer em termos de escalão, quer em termos de bonificações de crédito, esses mesmos trabalhadores? Será que, ainda que com recibos verdes, pedem a estes trabalhadores que cumpram horário, que respeitem hierarquia e que tenham local de trabalho fixo? Será que, perante o cumprimento destas exigências, em alguns casos, continuam sem pagar subsídio de Férias e de Natal? Será que o reconhecimento do mérito é parco? Será que, quando algum trabalhador, que noutras ocasiões trabalhou horas e horas sem controlo, falta uma tarde ao serviço prontamente lhe descontam as horas em falta?

Numa altura em que se debatem as vias alternativas de financiamento do III sector, numa altura em que de alguns quadrantes se reclamam verbas inscritas no Orçamento Geral do Estado para financiarem estas organizações, numa altura em que tanto se fala de dignificação dos postos de trabalho, valia a pena reflectir sobre esta realidade, sob pena de se manter a sangria de quadros qualificados nas regiões mais carentes de qualificação técnica.

Estamos a falar de técnicos que trabalham, paradoxalmente, na promoção de melhores condições de vida, na promoção da empregabilidade das populações, na organização de formação profissional.

Dir-me-ão que há excepções. Outros empurrarão para cima e/ou para baixo as responsabilidades.

A culpa morrerá, mais uma vez, solteira!

E o Alentejo continuará a perder!

novembro 15, 2004

Contributo para a discussão das hortas sociais

«Em primeiro lugar, a sociedade civil portuguesa é rica em tecnologias familiares, tanto materiais como simbólicas, e em formas de sociabilidade face-a-face baseadas sobretudo no parentesco e na vizinhança. (...) [A] sociedade civil portuguesa é fraca, isto é, atomizada e fragmentada, se a julgarmos apenas pelos padrões e formas de organização dominantes nos países centrais. Pode, ao invés, conceber-se que as sociedades civis dos países centrais são fracas, quando julgadas segundo os padrões e as formas de organização em que a sociedade portuguesa é forte. É fácil construir o contra-argumento de que se trata de arcaísmos pré-modernos, tradicionais e retrógrados, não admirando por isso que tenham figurado entre os créditos da contabilidade salazarista. Admitindo que nem sempre é fácil distinguir uma posição retrógrada de uma posição progressista (ao contrário do que pensam os dogmáticos das várias cores), há procedimentos analíticos e critérios políticos que podem ajudar à distinção. Tomemos, por exemplo, o caso da pequena agricultura familiar ainda importante entre nós e dita ineficiente, retrógrada e condenada ao lixo da história pelos adeptos da modernização, agora entrincheirados no poder. Sem dúvida que é retrógrada, pelo menos, em dois pontos: em primeiro lugar, representa dominantemente uma estratégia de sobrevivência, que raramente chega para atingir um nível de vida decente; em segundo lugar, é uma organização social particularmente dominada pelo poder do patriarcado e, portanto, pela desigualdade sexual e pela exploração do trabalho infantil.
Seria, no entanto, concebível que a pequena agricultura familiar fosse reinventada, a partir da que existe, e de modo não só a neutralizar a sua negatividade - transformando-a numa estratégia de afluência e de qualidade de vida e democratizando as suas práticas produtivas e reprodutivas - mas também a maximizar a sua potencial positividade: uma vida activa e diversificada, conduzindo em parte ao ar livre e em comunhão com a natureza, uma ideologia de produção baseada no socialmente útil e não no lucro e garantida contra os excessos de produção e de produtividade. Para que se não pense que se trata de imaginação solipsista, vem a propósito mencionar a recente curiosidade dos deputados do Partido dos Verdes no Parlamento Europeu pela pequena agricultura portuguesa, vendo nela alguns traços do modelo de agricultura por eles defendido no seu projecto de reforma agrária europeia. Segundo eles, as vantagens reconhecidas na pequena agricultura portuguesa são precisamente as seguintes: permitir uma melhor qualidade de vida pelo equilíbrio que proporciona entre trabalho urbano e trabalho rural, ajudar a fixar a população nos campos e impedir a congestão das cidades, não destruindo o meio ambiente e produzir equilibradamente evitando o problema dos excedentes.»
(SANTOS, Boaventura de Sousa (1994), Pela mão de Alice - O social e o político na pós-modernidade, Porto: Afrontamento)

novembro 11, 2004

Não Obstante, há que Arrepiar Caminho

O mutismo, o autismo, a mediocridade salóia têm sido por aqui denunciados pelos meus estimados confrades desta Torre sem eco para lá do agradável crescente número de leitores assíduos que vamos registando com profunda gratidão.
Hoje, contudo, tentarei sensibilizar para um dos muitos problemas que ainda poderemos estar a tempo de corrigir, assim o queiram os detentores dos dispersos poderezitos distribuídos à competência tribal.
Porco Preto!
Eis do que vos pretendo falar. Quem não conhece este animal nado e criado para as bandas de Barrancos e que nos chega sempre com enebriante paladar, seja em presa ibérica, secretos, os mais vulgares lombinhos e, pois está claro, o pernil de fumeiro - o presunto! Iguaria sem igual, única e nossa, nossa do Alentejo, um orgulho da gastronomia alentejana que não hesitamos em dar a provar a todo o forasteiro que ainda não o tenha degostado!
Afinal, que problema tem o nosso Porco Preto? Nenhum, por quem sóis, no nosso prato é de chorar por mais. Fora do prato, ainda dependurado no talhante é que ele é já um petisco em vias de extinção se não arrepiarmos caminho!
Comer Porco Preto a todas as refeições..., poderia ser uma tentativa, mas insuficiente e um sério atentado à saúde pública. Que fazer? Bom, sempre poderíamos explorar o nicho de talhante do dito, tentar uma vender os porcos em rede e, quiçá, montar umas banquinas nas estradas como se de melões se tratasse! Por que não, até se daria uma substancial ajuda à redução da taxa de desemprego!
Mesmo assim seria insuficiente para salvarmos o nosso Porco Preto da extinção, para não falar do anedotário que por aí viria...
Quando congeminava sobre o que fazer pelo Porco Preto lembrei-me do Prof. Daniel Bessa, não por qualquer paródia, mas por um estudo que o Governo de Durão Barroso lhe encomendou e cujas conclusões deveriam ter sido mais escalpelizadas pelos responsáveis nacionais e regionais, apresentadas com pompa e circunstância pelo próprio Primeiro-Ministro de então sob o o título "Apresentação das Conclusões do Programa para a Recuperação das Áreas e Sectores Deprimidos - " e que poderão consultar aqui em formato "pdf".
Este foi o primeiro e único estudo feito em Portugal até ao momento (ressalvo, de que tenha conhecimento) sobre o estado da nação por regiões (aconselho os mais susceptíveis, como sejam os senhores das Com e Gam Urs, a passar à frente a página 4, aliás, o mesmo que o governo que o encomendou e as conclusões parabenizou fez, estejam à vontade) e, independentemente de não estar em total acordo com as conclusões que retira sobre o Alentejo, ao qual tive ocasião de exprimir pessoalmente (sendo como é um reputado especialista em macro-economia foi induzido em erro pela constatação de elevados investimentos endereçados pelo estado, mas que bem analisados se resumiam a Alqueva e ao Aeroporto de Beja), muito se pode delá retirar em nosso proveito, nomeadamente a notoriedade da marca Alentejo e o incentivo a incrementá-la!.
Estou para aqui farto de escrever e a coisa ainda está muito enredada! Afinal o Porco Preto goza de notoriedade entre nós e não se vislumbra o que é que o Prof. Daniel Bessa possa ensinar sobre o referido bicho!
Conhecem Allan Karl? Eu também não, mas sei que tem um blogue que se chama "The Digital Tavern", no qual, no pretérito dia 31 de Outubro, escreveu sobre o nosso Porco Preto! Ou não, esperam lá, ora vejam, não, não é que o malandro, que até diz bem de Portugal, em vez de falar do nosso Porco Preto fala dum tal "Andaluscian Jamon"! E o homem não se fica por aqui:
«I made my way through the winding roads of the Sierra Morena our eyes feasted on the famous oak forests that drop the only food these free range pigs are allowed to eat -- acorns. Like Serrano ham or prosciutto from Italy, Iberico Jamon Bellota is perhaps the ultimate gourmet cured meat.
In every restaurant, cafe and even the homes of the Andaluscian people you will find a leg of pork, hoof and all, resting on a specially designed holder, typically with an oak base, that places the leg at the ideal carving position

É por estas e por outras que nós, os tais portugueses do "V Império" de que nos fala o Piotr Kropotkine deveríam agir de imediato. Primeiro impedir estes imigrantes ilegais ou turistas de pé rapado a entrada neste paraíso e ainda por cima dizerem destas mentiras; depois, porque isto de blogues não é coisa credível, não dar muita importância ao assunto - o melhor é fazer de conta que o que esse "mentecapto" escreveu num blogue, afinal, ninguém lê - desprezo absoluto e irredimível!
Mas não é o mito do "V Império" que alimenta esta Torre e muito menos os nossos compadres andaluzes! Essa é que é essa, eles não andam a comer sono. O facto é que em termos das sub-marcas que constituem uma marca a do Porco Preto, nossa já não é a não ser para o nosso umbigo. Já não é por incompetência de todos nós, alentejanos e portugueses que ainda pensamos que basta manter e mimar as boas tradições e o resto logo se verá!
Pois verá, ver-se-á que enquanto não vendermos sustentada e coerentemente a nossa marca e respectivas sub-marcas alguém o fará por nós, conduzindo-nos ao único desenlace possível - o estado de subsídio dependência - destino inevitável quando se investe apenas na produção descurando a colocação no mercado. Em qualquer empresa, seja agrícola, manufactura, de bens ou serviços, de serviçoes de limpeza ou culturais, (e desculpem mas nem todos são obrigados a conhecer estes dados), a percentagem do orçamento total para a colocação dos produtos no consumidor final, onde se incluem estudos de mercado (comportamento dos consumidores, detecção de oportunidades, alvos e nichos, relação investimento/retorno), investimento na divulgação, distribuição e comercialização terá de ser superior ae 60% do orçamento total, sob pena de estar a produzir "monos" para stock!
Este texto é dirigido a todos nós, os que se preocupam com o nosso desenvolvimento, mas em particular a essa coisa das múltiplas regiões de turismo deste Alentejo, agora associadas numa só, que, francamente, ao fim de 7 anos ainda não consegui vislumbrar o que pretendem fazer, como, com que meios e atingir que alvos e nichos!
Por isso regresso ao título, há que arrepiar caminho, pois ainda temos condições para o fazer - temos o produto, temos qualidade superior, temos mão-de-obra especializada, falta apenas, como em tudo o demais, estudar o mercado, fazer a embalagem, escolher o canal de distribuição, os pontos de venda e divulgar! Falta pouco, não é difícil mas, se não for pedir demais, entreguem o assunto a especialistas credenciados!

novembro 10, 2004

O Mistério de La Sabina

Ora a propósito desta curiosa e nebulosa companhia mineiró/turistica deu à costa uma notícia ...

Sobre este nebuloso e curioso assunto voltarei aqui. Por agora deixo umas perguntas. Se alguém souber, eu fico penhorado pelas respostas.

O que é a La Sabina? Uma sociedade anónima? Durante quanto tempo esta lider de consórcios teve registada na conservatória do registo comercial com capital inferior ao mínimo legal exigido para sociedades por quotas, let alone ser anónima? Já agora quem vai pagar a despoluição daquele sítio? (Sítio porque durante décadas a Mina de S. Domingos era uma coisa estranha, não era aldeia, não era lugar,embora tivesse iluminação eléctrica primeiro que as urbes, era um sítio com milhares de almas....a Câmara Municipal não riscava nada a partir de certos marcos que delimitavam a propriedade privada...)

Procuramos na Internet uma páginhazinha sobre esta companhia anónima tão empreendedora e "dinâmica" e nada... estranha política de comunicação no mundo moderno...

Confesso enorme curiosidade sobre este "consórcio".... e sobre tal dimensão de investimento.... e sobre os financiamentos


Estes projectos não são novos já se fala deles há uma década no mínimo... ilustram antes uma história paradigmática de capitulação do Estado Português perante uma estranha companhia...

Um dia, com tempo, procurarei também apurar o papel dos protagonistas de Mértola na estranha promoção imobiliária da venda de casas aos ex mineiros...

novembro 09, 2004

Das decisões que afectam… [Memórias do Epicurtas II]

Escola Bento de Jesus Caraça decide fechar pólo por falta de viabilidade económica - Ensino profissional encerra no concelho de Castro Verde.

Esta é uma notícia triste. Triplamente triste. É uma notícia triste porque anuncia o termo de uma iniciativa de mérito que procurava levar a uma região com conhecidos estrangulamentos e falta de empreendedorismo um projecto audaz, com pernas para andar e radicalmente diferente das usuais soluções infinitamente testadas e infinitamente fracassadas de que, ao longo de anos, o Baixo Alentejo tem sido palco. É uma notícia triste porque anuncia um processo disciplinar a um homem de vistas largas, elevada competência pedagógica, obra feita e coragem e força para fazer mais e fazer diferente. Carlos Pedro, à frente da delegação da Bento de Jesus Caraça, em Mértola, prestou um excelente serviço a instituição, ao município, à região e, sobretudo, aos jovens que por lá passaram; por isto, estes falarão por ele… É uma notícia triste porque mais uma vez se prova que vivemos num país miserável em que os verdadeiros valores são reiteradamente menosprezados em prol de toda uma claque subserviente, alinhada e cabisbaixa. Uma vez mais, e isto sou eu a adivinhar, guerrinhas partidárias internas no PCP resolvem penalizar Castro Verde, o Alentejo e Carlos Pedro.
[este post foi publicado em 04.08.2003, na sequência de uma notícia publicada pelo Diário do Alentejo]

Este é um exemplo do que o Piotr Kropotkine, no post Perplexidades, queria dizer com: “Raramente neste país as pessoas são nomeadas para cargos públicos ou para-públicos por via da apreciação e mérito curricular como defendia Weber.”

Alentejo [Memórias do Epicurtas I]

Não sou alentejano, de berço. Mas amo o Alentejo. E não o faço com o distanciamento urbano, que acha pitoresco o Domingo ao sul. Amo o Alentejo pelo que é. Verdadeiramente. Pelas suas cores, pelos seus sabores, pelos seus cheiros, pelas suas gentes, pela sua dolência e irreverência. E sei do que falo. E falo do Alentejo mais distante. Do Baixo-Alentejo. Do Alentejo Interior. Do Alentejo quente, no Verão, como a braseira no Inverno. Do Alentejo frio, no Inverno, como o gaspacho no Verão. Falo do Alentejo desprezado pelo poder político. Abandonado pela comunicação social. Usado pela urbanidade chique. Do Alentejo de Barrancos – uma vez mais olvidado, como durante séculos, agora que a tensão já não se sobrepõe à tradição. E isto faz sentir-me alentejano também...
[publicado, originalmente, em 03.09.2003]

novembro 06, 2004

Perplexidades

Confesso que a questão da Empresa do Aeroporto de Beja me deixou um bocado perplexo.

Julgo que a vertente de quem é nomeado ou deixa de ser nomeado para a administração, se representa interesses mais ou menos opacos ou transparentes, se é nomeado como pagamento ou cobrança de favores de lideranças regionais com ou sem expectativas de ascenção da insignificância, se têm mordomias acima da média ou da mediana, é pouco profícua. É assim! Infelizmente é assim.

Raramente neste país as pessoas são nomeadas para cargos públicos ou para-públicos por via da apreciação e mérito curricular como defendia Weber. Um dia destes verificar-se-á que alguém avança com o moto de um candidato vencedor a Prefeito da cidade de São Paulo, aqui há umas décadas atrás, e que mandou colocar cartazes que diziam "Rouba mas Realiza!" Este já quase não é um mal, é uma característica estatística saliente dos tempos... Adiante...

O que me deixa perplexo, é que não se entenda necessário fechar a porta à especulação, clarificando o que de facto aconteceu. O silêncio parece-me sinónimo de uma arrogância só possível pela total ausência de espirito crítico. Será mesmo possível que as gentes estejam inóculadas de indiferença ou descrença?

Não tendo produzido nenhuma explicação, em seu lugar, assistimos a uma bizarra discussão entre méritos e deméritos e comparações entre aerodromos e aeroportos... Perdoem-me, mas, isso é verdadeiramente patético... Pode bem ser estimulante numa qualquer classe de jardim de infância, e nessa circunstância é até um fase normal de afirmação identitária...tipo a minha é maior que a tua, ou o meu pai é mais rico que o teu...

A oportunidade perdida parece-me demasiado importante para um região inteira. Ou sub região ou outra nomenclatura que queiram utilizar, a mim pouco me importa o termo. A perda da oportunidade sim, essa é vergonhosa. Num distrito descapitalizado, parco em empreendedorismo, com desemprego, com sistemática deserção dos seus naturais, é triste que não se tenha vislumbrado que para além do imediatismo de x postos de trabalho, e de y de aumento de compras em estabelecimentos comerciais, de z% de potencial aumento do PIB regional existiam outros gradientes verdadeiramente estratégicos. O trágico, porventura, é que nem isto se vislumbrou...

Uma indústria deste tipo pode motivar efeitos de arrasto consideráveis. Poderia ter sido um dínamo... numa lógica de cluster de fornecedores de serviços à empresa polo, numa lógica de fileira, com o surgimento de fornecedores de componentes com incorporação nacional, numa lógica de desenvolvimento de actividades imateriais conexas, com protocolos de I&D, com serviços de formação profissional, com actividade de procurement, com desenvolvimento de sectores de turismo, de sectores de marketing, de turismo de qualidade...

Servindo de efeito de demonstração com capacidade de por os actores politicos à procura de outros potenciais, enfim a literatura de estratégia de desenvolvimento regional possui case studies para as pessoas procurarem soluções, a literatura de desenvolvimento tecnológico também, e depois há o mundo real, com ou sem literatura abundam casos em que uma pequena alteração destas relançou regiões...

O que parece mais ou menos evidente é que não foi nenhum quadro teórico a enquadrar uma decisão, terá sido antes o pragmatismo da ignorância? Terá sido o umbigo do interesse pessoal e mesquinho?

É pena que se tenha perdido uma oportunidade destas, infelizmente é típico...

Infelizmente aqui há muitos anos atrás, testemunhei, um pouco mais a sul do Aeroporto de Beja um caso paradigmático. Em face da queda das barreiras administrativas do condicionamento industrial, numa moagem assistiram ao desaparecimento dos clientes que até ali tinham vindo de burrico comprar venerandos ao suserrano local uma saquita de farinha para fazer um pãozinho... os clientes, esses mal agradecidos deixaram paulatinamente de aparecer. O suserrano não foi à procura deles, porque isso ficava mal a um marquês da nêspera. Veio a saber por emissários, que os malvados de Lisboa dispunham de uma frota de carrinhas que distribuiam a farinha colocando-a no monte mesmo à porta do velhote que entretanto deixara o burrito a descansar. E os manhosos de Lisboa nem sequer se ficavam por aqui, nem por sombras, tinham mesmo o descaramento de baixar o preço em dois tostões por quilo.

Cá continuaremos sentados...sem compreender muito bem porque é que a sorte é tão madrasta e porque é que temos de "penar" tanto....

Outra piquena nota...

Tenho reparado que para a maioria dos meus conterrâneos, a teleologia parece continuar a ser...entrar anónimo na vida, não levantar ondas pelo caminho e, abandonar este vale de lágrimas incógnito.

Não obstante, para alguns outros, reparo que a sede de pequeniníssimos protagonismos parece afectá-los como uma virose...não quero acreditar, contudo, que, a insuportável pequenez da sistemática utilização, sem imaginação, da falácia ad hominen, que tenho registado em publicações e crónicas dos poucos orgãos de comunicação deste Alentejo, que entretanto comecei a ler com avidez, traduza uma táctica para dissimular uma conivência medíocre, um compadrio silencioso e cumplíce. Como é sugerido por alguns companheiros da Torre. Que falam de silêncios insuportáveis sobre falhanços empresariais incompreensíveis, ou falam de misteriosas reuniões de conluio em ilhas de jardins.

Quem sabe a humidade acumulada em tantos quartos de sentinela já lhes afecte o cérebro. Eles, os meus companheiros de Torre, tem uma vantagem e um desvantagem sobre mim. É que eles vivem aqui. Portanto, participaram e participam na comunidade. Eu não. Eu sou como tantos que partiram levados pelos pais em fuga. Fuga de várias coisas que agora se torna supérfulo alinhavar. Os meus companheiros sabem. Eu não. Assim sendo, eles talvez sejam mais cínicos do que eu, quem sabe, desiludidos pela claustrofobia que se apanha em ambientes de debates viciados e inúteis. Pelo desencanto de quem já fez obra ou tentou fazer sem curar de cobrar louros efémeros nem de ficar na fotografia.....Por isso eles criaram este blogue e tiveram a amabilidade de me convidar...

A minha vantagem talvez seja mesmo da distância e da doce ignorância àcerca dos actores amadores de uma peça com argumento canhestro e de cenografia muito pobre...

Muito Bem...aguardei com a devida cerimónia...

Que os companheiros desta aventura viessem aqui e acrescentassem um post, para além da declaração de intenções e demais propósitos. Contudo, parece que se estão a acanhar.

Ora, gostava de acrescentar qualquer coisa à declaração inicial. Eu, como fundador de um novo partido seria mesmo caso para inquirir se as diversas terapias teriam algum efeito... mas...também não estou por aqui, como de resto por ali... para me fazer convidado de nenhum dos partidos existentes... nem alimento a expectativa de que este "mecanismo" seja o caminho para obter algum "empregozito", quem sabe de terceiro secretário da delegação local do Instituto da Juventude ou do Instituto da Velhice...muitissimo menos para potencial vereador de qualquer junta de freguesia ou paróquia...

Portanto, a minha participação aqui é quase asséptica, inóqua e inofensiva... para essas almas.

Gosto mesmo de por aqui andar, uma vez que por aqui nasci e por aqui provavelmente repousarão os ossos ou as cinzas que é mais moderno e ecológico. Entre esses dois marcos...entristece-me alguma coisa do que vejo e alegra-me alguma coisa do que sinto.... até logo...