novembro 18, 2004

Do Porco Preto à "Salve, salve Virgo Pia" (lauda italiana)

Tratar da promoção do nosso porco preto (vamos lá a ver se não estico mal o pernil de novo) é tratar da nossa imagem, interna e externa, promovendo o que temos, o fazemos e o que somos que nos distingue e identica.
Daí que a precaridade da nossa promoção seja constatada tanto no Porco Preto como na Música Litúrgica, por exemplo. Vem isto a propósito de dois recentes eventos, um em Évora e outro no chamado Baixo Alentejo, que me revolvem as entranhas - as "VII Jornadas Internacionais da Escola de Música da Sé de Évora" e o "Terras sem Sombra", produzido pela Diocesa de Beja e muito divulgado nos meios, em parceria com a "Arte das Musas".
Não me deterei sobre a qualidade da programação destes eventos que ocorreram concomitantemente no nosso Alentejo. Detenho-me e dou nota da total ausência de um, um que seja, músico alentejano ou cá residente!
Não sofro de racismo, de xenofobia nem de bairrismo, mas entendo (poderei entender mal, é certo) que se o primeiro dos eventos foi financiado pela Câmara Municipal de Évora e o segundo pelo pelo Ministério da Cultura através do seu Programa Operacinal de Cultura (POC), onde se pode ler, que é «O Contributo dos Fundos Estruturais para a Valorização Humana e o Desenvolvimento Regional», ou ainda, na pag. 5 do link anterior, «Para compreender como os projectos co-financiados na área da Cultura promovem o desenvolvimento endógeno avaliam-se zonas que permitam afirmar a existência de "Pólos de Cultura", isto é, concelhos onde a diversidade de projectos co-financiados consubstancie um pólo de dinamismo cultural com repercussões na imagem dos territórios menos desenvolvidos, na travagem do declínio rural, na qualificação das pessoas e na valorização do território (...)», existe a "obrigação" de promover os actores culturais locais ou então declará-los incompetentes, mas nunca votá-los a um desprezo incompreensível!
Valha-me Deus! Valorização humana e desenvolvimento regional? Desenvolvimento endógeno? Consubstanciar pólos de dinamismo cultural?
Textos deste teor são valiosíssimos para mestrados, doutoramentos, pós-graduações e quejandos, mas pôr em prática, ah, pois, aplicá-los nas, pelas e com as regiões é o diabo! Por que será que nos pacotes que nos enviam para o efeito vêm sempre os mesmos produtores, agentes, artistas e os mesmos..., sempre?
Não temos (perdoem-me por não pretender ser exaustivo), a Orquestra do Baixo Alentejo? Não temos o Coro do Carmo? Não temos o Coro de Câmara de Beja? Não temos o Coro Gregoriano de Évora? Não temos o Coral de Évora? Não temos o Coro da Universidade de Évora? Não temos o Coro de Câmara do Conservatório Regional do Baixo Alentejo? Não temos o Pax Ensemble? Não temos o Quinteto Moderno? Não temos o Trio Lusitano? Não temos o Duo Concordis? Não temos o Trio de Guitarras? Não temos o Quarteto Intermezzo? Não temos os Metais do Alentejo? Não temos o Trio Divertimenti? Não temos um organista distinto que a pedido da Diocese de Beja toca regularmente no órgão da Sé para sua preservação? Não temos uma cravista competente? Não temos ume extensa série de artistas capazes de assegurar com qualidade assinalável estes eventos?
Ora bolas, assim o Ministério da Cultura poderá sempre dizer que co-financiou projectos para o Alentejo, mas nunca poderá dizer que promoveu a valorização desta região, que promoveu o desenvolvimento endógeno e muito menos que consubstanciou pólos de dinamismo cultural entre nós!
O que estes eventos têm em comum são o envolvimento de entidades religiosas, a Diocese de Beja (através do Dr. José António Falcão) e a Sé de Évora, e o Prof. Vieira Nery que, apesar de não ser residente, é professor na Universidade de Évora e, é claro, dinheiros públicos, arrecadados dos impostos de todos ou caídos de subsídios comunitários que, aparentemente, seriam para aplicar no Alentejo!
Ora, ou Deus andará esquecido deste Alentejo, o que se não me afigura, ou os seus proclamados terrenos representantes preferirão fazer "boa figura" lá para os lados da capital do "império".
A verdade é que, mais uma vez temos, fomos financiados sem tirar o menos proveito!
O Ministério da Cultura fará boa figura ao apresentar uns milhares de euros de financiamento para o Alentejo! A Igreja poderá dizer por este país afora que muito faz pelo desenvolvimento cultural destes pobres coitados! A Arte das Musas divulgar-se-á pelas programções que leva a cabo, inspiradoras ao que parece da lusa beatude! O Dr. José António Falcão e o Prof. Vieira Nery, esses não, não precisam já destas coisas, são autênticos "opinion makers" do Ministério da Cultura!
Quanto a nós, nada de novo, só os vemos passar! Poisar é que não, muito menos os financiamentos para o nosso desenvolvimento, cultural, no caso!
"Salve, salve Virgo Pia"!

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