novembro 16, 2004

O Desenvolvimento Local e a Gestão de Recursos Humanos...

As Associações de Desenvolvimento Local (ADL) e outras organizações do III sector (privado não lucrativo) fazem, no Alentejo e um pouco por todo o país, um meritório, algumas vezes excepcional, trabalho de Desenvolvimento nas suas áreas geográficas de actuação. Fiquemos entendidos quanto a este ponto; a afirmação está feita e é minha.

Estas organizações vivem sobretudo de financiamentos da União Europeia, seja por via dos Programas Operacionais Sectoriais e Regionais (vulgo PO’s), seja por via dos Programas de Iniciativa Comunitária (vulgo PIC’s). De uma forma ou de outra são financiadas por dinheiros públicos. São-no, de resto justamente, até porque o Estado não tem, nem por via da administração central, nem por via da administração local, condições de fazer o trabalho que elas fazem.

Presentemente, tais organizações, no Alentejo, possuem um corpo técnico de excelente qualidade; têm equipas jovens e altamente qualificadas. Tão jovens e tão qualificadas que são capazes de fazer corar de vergonha qualquer organismo estatal. Tão jovens e tão qualificadas que se disponibilizam a trabalhar fora de horas, numa entrega total, garantindo para estas organizações excelentes candidaturas a financiamentos, usualmente aprovadas, e notáveis planos de acção.

Apresentam, aparentemente, uma configuração de vanguarda: num contacto privilegiado com as populações criam e disseminam conhecimento. Têm, aparentemente, uma estrutura flexível onde a informação corre facilmente e a autonomia é prática dominante. Premeiam, aparentemente, a iniciativa e a competência. Valorizam, aparentemente, os Recursos Humanos de que dispõem.

Há, porém, um dado desconcertante: o turn-over (entenda-se a saída e entrada de técnicos) é extremamente elevada. Mais: a saída dá-se, não raras vezes, para a Administração Pública.

O que é leva jovens qualificados, altamente motivados, a sair de organizações tão vanguardistas? O que é que leva outros, ainda nessas organizações, a considerar a possibilidade de seguirem esse mesmo caminho? O que é que justifica a troca de organizações onde tratam o chefe por tu por estruturas imensamente hierarquizadas – onde não poucas vezes nem sabem quem é o chefe?

Será caso para dizer que as aparências iludem!!!

Será que a informação não flui assim tão bem? Será que a estrutura não é assim tão flexível? Será que a autonomia é uma falácia? Será que não é a iniciativa e a competência o que realmente se premeia? Será que os Recursos Humanos não se sentem assim tão valorizados.

Será que os jovens altamente qualificados e motivados estão, em alguns casos, anos e anos, a recibo verde – numa situação de emprego profundamente precária? Será que recebem, em alguns casos, consideravelmente abaixo do que se recebe na administração pública? Será que subsistem, ainda, casos de sobrefacturação nos recibos, justificando verbas recebidas pela organização, não pagas ao trabalhador, e penalizando fiscalmente, quer em termos de escalão, quer em termos de bonificações de crédito, esses mesmos trabalhadores? Será que, ainda que com recibos verdes, pedem a estes trabalhadores que cumpram horário, que respeitem hierarquia e que tenham local de trabalho fixo? Será que, perante o cumprimento destas exigências, em alguns casos, continuam sem pagar subsídio de Férias e de Natal? Será que o reconhecimento do mérito é parco? Será que, quando algum trabalhador, que noutras ocasiões trabalhou horas e horas sem controlo, falta uma tarde ao serviço prontamente lhe descontam as horas em falta?

Numa altura em que se debatem as vias alternativas de financiamento do III sector, numa altura em que de alguns quadrantes se reclamam verbas inscritas no Orçamento Geral do Estado para financiarem estas organizações, numa altura em que tanto se fala de dignificação dos postos de trabalho, valia a pena reflectir sobre esta realidade, sob pena de se manter a sangria de quadros qualificados nas regiões mais carentes de qualificação técnica.

Estamos a falar de técnicos que trabalham, paradoxalmente, na promoção de melhores condições de vida, na promoção da empregabilidade das populações, na organização de formação profissional.

Dir-me-ão que há excepções. Outros empurrarão para cima e/ou para baixo as responsabilidades.

A culpa morrerá, mais uma vez, solteira!

E o Alentejo continuará a perder!

1 Comentários:

às 11:00 da tarde, Blogger Carlos Araújo Alves escreveu...

Será que...?
Não, Pedro Sanches, não será, é assim pronto!
Mas, cautela, não é só por aqui. Em boa verdade, apesar de não haver dados concretos e muito menos trabalhados, o Estado e as Autarquias são, senão os maiores, um dos principais responsáveis pela vulgarização do "recibo verde" e da precaridade de trabalho!
Seja em associações de desenvolvimento, seja em orquestras sinfónicas!

 

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