novembro 21, 2004

o Altar

Regressei ontem de uma pequena interrupção à sequência normal da vulgaridade em que, voluntaria ou involuntariamente, nos arrastamos ou deixamos que nos arrastem. Por ora, ainda não consegui digerir bem o turbilhão de confrontos que me ocorre. Entre o que podiamos ser e o que somos.
Em concreto estive no País Basco e na capital económica do dito, San Sebastian. Porque os bascos são de facto gente complexa. Três parlamentos autonómicos com igual deputação no parlamento "central" e assumem-se como quase uma confederação. O governo autonómico não é bem um governo como o da Catalunha ou da Galiza. É uma incompreensível representação de interesses colegiais cujo entendimento me escapou em tão poucos dias... É matizado por um catolicismo profundo, mas que a mim me parece quase luterano. A riqueza oculta-se por pudor. O basco é tímido e delicado, muito educado. Contudo possui um enorme sentido de humor.
Disto tudo resulta uma região bem acima da média europeia e com problemas semelhantes aos que vejo discutir na Suécia...

Talvez um dia volte a este tema. Mas depois de umas viagens de trabalho começa a ser clara uma coisa. O altar a que se sacrificam não tem nada a ver com os altares que por aqui adoramos. O dinheiro, o poder, a fama, e outras merdas do costume...
Parece-me genuina a família basca. Parece-me sólida. Parece-me genuíno o interesse pela cultura. Vê-se muita gente a ler nos cafés e bares... Vê-se muita gente a citar o que disse este ou aquele escritor basco, espanhol, português, inglês, americano...O interesse pelo conhecimento e pelo conhecimento do outro...
e parece que ali o conceito de verdadeira solidariedade e de entreajuda vive...
o que é curioso é que com uma matriz tão católica, pelo menos na aparência, se cultiva uma ética individual de responsabilidade pessoal e intransmissível...

1 Comentários:

às 1:24 da tarde, Blogger Carlos Araújo Alves escreveu...

Sejas bem regressado, Piotr!
Pois é País Basco, a beleza de San Sebastian, seguramente uma das cidades mais bonitas deste península.
Mas como bem ressalta do teu texto não percebemos muito bem como é que constatamos que tudo funciona bem e com alegria enquanto o poder político se perde em conclaves de difícil percepção.
Em boa verdade, dá-me ideia que, apesar do poder político ser algo severo e envolvido em luta antiga, não se intromete com quem quer e pretende fazer.
Não se intromete? Fica-nos sempre a dúvida no que concerne ao propolado "imposto revolucionário"! Sabemos é que funciona e a cidade é de gente alegre e escorreita.

 

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