dezembro 07, 2004

Regionalização (a visão da direita renitente)

A minha vontade de escrever um post sobre a regionalização vem já do tempo em que o Cadilhe fez declarações em defesa da mesma.
Eu votei contra a Regionalização. E fi-lo, pensando agora com alguma distância, porque sou de direita. “Filosoficamente de direita”, para usar a terminologia do Pacheco Pereira… Ou seja, sou um gajo cínico, pouco crente na natureza humana… Um gajo manhoso que acredita mais no Hobbes, que no Rousseau… E, para piorar as coisas, vivi no Alentejo anos suficientes para lhe conhecer os políticos; coisa que, meus amigos, só agravou esta minha “má vontade”.
A que é que isto vem a propósito? Vem isto a propósito de considerar que, pese embora a minha discordância com a sua concretização, a argumentação do Carlos, no seu último post, faz algum sentido do ponto de vista da real politik regional; mas não colhe, quanto a mim, nem do ponto de vista do desenvolvimento desejado para a região, nem, definitivamente, do ponto de vista do que é possível fazer com os políticos que temos.
É que a argumentação do Carlos, bem como a do Francisco, presumem a bondade e a necessidade da acção do Estado no desenvolvimento regional e a minha, e pelo que percebi a do Piotr Kropotkine também, assentam, no seu contrário e, sobretudo, na necessidade da acção dos privados. Melhor: ao Estado devem estar acometidas funções de facilitação dos processos de desenvolvimento e não tanto de condutor desses mesmos processos. Ao Estado pede-se que invista nas infra-estruturas sobre as quais possam assentar as acções dos privados. Pede-se ainda que desregulamente, desburocratize e simplifique. Defender a Regionalização, a partir deste meu ponto de vista, é crer que é possível ao Estado fazer isto… Ora esta minha “má” formação e feitio retorcido fazem-me duvidar de tal possibilidade com tal veemência que, para piorar as coisas, não consigo deixar de pensar em mais uma turba caciquista a defender interesses privados em conflito com os interesses dos privados.

2 Comentários:

às 9:52 da manhã, Blogger Pedro Gomes Sanches escreveu...

aguardo, então... é porque eu, na verdade, também tenho dificuldade em encontrar razões de esquerda e razões de direita nesta questão. a única que encontrei - caldeada com algum cinismo - foi, de facto, a que apresentei!

abraço!

 
às 3:50 da tarde, Blogger Carlos Araújo Alves escreveu...

Pedro, há permanências nos discursos de todos nós. Tentarei, identificar os que me parecem mais óbvios:
1 - O Alentejo carece endemenicamente de iniciativa, seja ela privada, associativa, cooperativa, pública ou mista;
2 - Sem iniciativa privada não há modelo administrativo que, per si, altere a esclerose galopante da nossa econoia e cultura;
3 - A ausência dessa iniciativa faz com que os alentejanos sejam meros peões nas mãos dos poderes instalados, sejam eles centrais, regionais ou locais;
4 - os responsáveis locais dos principais partidos políticos, ao defenderem os seus espúrios poderes são os principais responsáveis pelo aniquilamente de qualquer iniciativa que os possa perturbar;

Neste quadro, em ciclo concêntrico, leva-me a acreditar que a sacudidela que umas eleições regionais seria benéfica para o acordar dos cidadãos, mas não considero, enquanto conseguir manter a minha sanidade, que um processo de regionalização seja encarado como uma solução, ou a solução, para o nosso desenvolvimento.
Acredito que a nossa responsabilização pelo nosso futuro nos poderia beneficiar, mas nunca resolver, como por milagre, a letargia dos alentejanos de hoje.

 

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